29 de jul. de 2012

Resenha | A Filha da Minha Mãe e Eu

Sejam em filmes, livros, séries de tv, palestras, entre outros meios: as relações familiares são sempre, de certa forma, complexos demais em suas abordagens. Muitos tentam solucionar os problemas ao invés de debatê-los e acabam indo a lugar nenhum. Muitos se iludem com fórmulas vendidas para melhora das relações, entre outras "mágicas", mas vez ou outra os problemas estão lá, sem serem debatidos, refletidos, analisados - o caos impera, disfarçadamente e a bola de neve só tende a aumentar. Em A Filha da Minha Mãe e Eu, livro de estreia da escritora e roteirista Maria Fernanda Guerreiro, vemos a relação "mãe e filha" sendo abordada de um modo íntimo, simples, e o melhor, genuíno.

Mariana já é mulher feita e descobre estar grávida. De repente visualiza-se mãe de alguém. Mas não, antes disso é necessário que ela reflita sua condição de filha antes de se tornar mãe. Ao longo dessa autodescoberta ela relembra fatos da sua infância até a idade adulta, especialmente sua relação extremamente conturbada com sua mãe, Helena. Ela precisa voltar ao passado e entender os erros e acertos de sua mãe, o porquê de certas atitudes e escolhas, analisar o tão famoso amor incondicional de mãe. Tudo isso com a companhia de seu irmão mais velho, seu pai amoroso e os desafios do crescimento e com ele todos os obstáculos e inseguranças.

Logo de início o livro me surpreendeu bastante, mesmo já sentindo o tom da história pela premissa. A escrita da autora é clara, simples e ao mesmo tempo emocionante em vários momentos e bem detalhada. 
Creio também que a veia roteirística de Guerreiro pulsou forte durante o desenvolvimento da obra. Mesmo com alguns vícios, principalmente nos diálogos não tão críveis pra mim, o livro cumpre o seu papel de apresentar situações complicadas e suas várias possibilidades de desfecho. Guerreiro soube dosar com maestria as diversas situações da infância, adolescência e idade adulta de modo que sentimos evoluir com os personagens e sofrer, nos alegrar, nos emocionar com e como eles. 

Pra quem acha que o livro apenas trata da relação mãe e filha e nada mais, estão enganados. O livro é extremamente recomendado para todos, de todas as idades e sexos. A família brasileira está lá, exposta, e é fácil para nós nos identificarmos com diversas situações que são apresentadas. Creio que em vários momentos, agora extremamente pessoalmente falando, me identifiquei com não só com um, mas vários personagens em diversos momentos do livro. Isso é raro hoje em dia, e merece crédito. Ao final senti uma pontinha de sentimento amargo, como se o final pudesse ser diferente ou mais surpreendente, mas como é verdade, a leitura já foi uma surpresa para mim e, assim como a nossa vida e a vida de Mariana, nem tudo é perfeito. Em resumo, o livro é impactante em vários pontos, muito parecido com um filme ou atos de uma peça e vale a pena ler. Assim como Mariana, é interessante refletir  de um modo mais simples a família e suas relações, e ao final seguir em frente.