23 de jun. de 2011

Literatura: questão de juízos de valor?

Desde o meu início de estudos na universidade, sempre me deparei com o enorme preconceito que os professores universitários tem com os livros de maior sucesso, conhecidos como best-sellers. Sou aluno de Letras e nunca me conformei com tal fato - já que sou um enorme defensor de leitura YA (young-adult) e séries de sucesso comercial que, para mim, a grande maioria são boas - porém creio que meu sentimento revolucionário fale mais alto em alguns momentos e eu meio que exagere na defesa. Mas, lendo um texto de Terry Elagleton, Literary Theory (1983) me deparei com um ponto de vista acadêmico que concilia bem as dias vertentes literárias: a erudita e a de massa. Existe realmente um certo e outro errado?


Antes de comentar Terry, queria mostrar um aspecto que o escritor e intelectual brasileiro Antonio Candido abordou em um de seus textos "O Direito à Literatura". No texto, o autor associa a literatura a um bem incompreensível, fator indispensável de humanização das pessoas, sendo assim um direito humano. Afirma que todos tem o direito ao acesso a todo tipo de obra (seja erudita ou de massas) a fim de ser papel formador de personalidade e desenvolvimento de conhecimento. Mas, e a literatura nisso? Ela chama a literatura, mesmo que de maneira ampla, de "todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade [...] Manifestação universal de todos os homens em todos os tempos." Mesmo defendendo e colocando a literatura erudita acima das demais, Candido dia que tudo é válido já que estamos adquirindo conhecimento e sendo formadores de opinião. Com Terry é diferente, já que o mesmo procura definir a literatura de vários modos sendo que não é possível uma real definição capaz de abranger todo tipo de manifestação literária, seja clássica ou até publicitária. O autor fala que para ser literatura, a leitura deve causar certa "estranheza" ao leitor, saindo da leitura automatizada para uma leitura mais intensa e íntima. Um exemplo é quando vamos ao cinema e alguém fala "Olá, noiva imaculada de quietude" ao invés de um simples "Oi, como vai?". Então só seria literatura algo com uma linguagem rebuscada? O estranhamento de Terry vem juntamente com os juízos de valor ao longo dos tempos. O que para mim não é literatura, pode ser para qualquer outro. Se, hipoteticamente, Shakespeare deixar de ser  considerada literatura e virar uma obra desclassificada não seria preconceito de alguém em algum momento da história já que hoje, no âmbito atual, veneramos tal autor?


Agora, pensando nos dias de hoje, não seria estranho estudar J.K. Rowling numa sala de universidade? Mas, e daqui a 50, 80 anos? A saga best-seller de Harry Potter poderia ser considerada uma literatura erudita até? Isso o tempo dirá. O fato é que os juízos de valor estão presentes e são variáveis através das ideologias sociais. O gosto particular de cada um formará pensamentos distintos, ideologias distintas e ramos diferentes de aprendizado -  o fato é que o preconceito de nada ajuda e sim, atrapalha.